sexta-feira, janeiro 23, 2009

Misterio Stereo

Baixei um cd novo. E não há nada de novo nisso. Me obrigo a ouvir ao menos algo novo a cada noite. Mas Deus, o que nos tempos de hoje pode ser tido como novo? Ahh, não quero me perder nesse questionamento. Não há tempo. Enquanto se discute, o novo vai perdendo sua identidade de recém-nascido e segundo a ordem natural, continua a morrer como faz desde que nasceu. (Existem sempre aqueles casos como o curioso caso de Benjamin Button. Porque nem sempre se é ingênito.)
O cd me é novo. É o que basta.
Assim como esse friozinho na barriga é composto dum simulacro que saborosamente me acorda às 4 da madrugada e me tira do desconfortável durmo-acordo-acordopradormirdenovo como se me não deixasse esquecer por algumas horas sequer o carnaval inesquecível na cidade alta que está por vir.

Eu espero que isso seja uma despedida.
Espero, acredito, creio. Finjo. Anseio que apesar de mim, amanhã haja mesmo de ser outro dia. Um dia lindo de morrer.

Ouçam a faixa 7 do cd Japan Pop Show do Curumin. (Ouçam o cd todo, é fenomenal. Tem pra baixar pelo Orkut.)
Ouçam Mombojó, ouçam China, ouçam Nação Zumbi, ouçam o barulho da chuva.
Ouçam as batidas dos seu corações e principalmente, a dos corações alheios sempre que puderem.
Não usem drogas como compositoras da rotina.
Não andem pela sombra. Andem pelo sol. Ele esquenta e faz com que suas células reclamem e se mostrem vivas pois então. Eu as apóio, pois me identifico. Sou reclamona, feita de células à minha imagem e semelhança. Sou a deusa delas.
(Particularmente andar pelo sol me lembra um curta chamado 'Chino' e me arranca um sutil sorriso.)
Não façam sexo sem amor e se puderem, não riam da minha cara nesse momento. (Mentira, façam si. Façam tudo que der na telha. Sejam de verdade, mesmo que a impulsividade não lhes seja [como não me é] uma característica tão entranhada.)
Ouçam seus pais. Um dia eles estarão mortos e não mais falarão.
Ao menos ouçam. Ouçam tudo que se fizer barulho. Ouçam tudo que se fizer silêncio.
Ouçam de olhos fechados, porém de poros abertos.

Estão ouvindo?
São seis e trinta e nove da manhã por aqui.
Ouçam os primeiros choros de alguns bebês que acabam de nascer prontos a desencadearem muitos decibéis nesse mundo que se faz de louco.
Ouçam os últimos suspiros de velhos e novos, doentes e sãos. Ouçam sim, não tapem os ouvidos a isso, por mais que dê vontade. Não enfiem os dedos nos ouvidos. A morte já está dentro de você. Eu, particularmente, deixo-a sair pelos meus sacos lacrimais sempre que tocam muito alto.
Um dia todo mundo vai morrer.
Eu estou morrendo agora.
Não se preocupem como eu me preocupo.
Lembrem-se que é a morte que faz com que a vida seja fatalmente eletrosoulsônica.
Quando eu chegar, eu lhes confirmo se não existe mesmo pecado ao sul do equador.
Sim, tenho essa esperança. Pela proximidade talvez. Quiçá sendo tão pertinho, a taxa de pecaminosidade seja menor do que a daqui.
(:

domingo, janeiro 18, 2009

Madeleine Wallace

o ego é a personagem mais covarde da história.
não considera o alheio, a menos que este esteja a seu serviço.
inescrupuloso. não mede esforços para conseguir o que quer. ou simplesmente para conseguir o que não conseguiu. esforços apenas para mostrar que pode. apenas para evidenciar a fraqueza do próximo. nesse jogo de esforços em que não importa, de qualquer jeito o adversário sairá perdendo. perdendo o que já não tinha. entrando em dívida consigo mesmo. por ter sido ingênuo. por ter se sido tanto até um ponto desconfortável, mas crendo no esforço de que no fim valeria à pena, somente por tê-lo sido.
oh, queridos, não se iludam. a verdade não tem nada de atraente, afinal. a verdade tem como única aliada a fé. a fé de que se está fazendo o que é certo e portanto, não provoca danos a ninguém.
engana-se.
essa fé na verdade é tão maior, que faz com que se perca até a fé em si mesmo.
como na religião, muitas vezes. o indivíduo rebaixa-se, em prol de algo incerto, porém, tido como verídico.
sem debates filosóficos, pois estes não me confortam o espírito. ater-se ao maniqueísmo é vão.

no mundo atual, o inevitável é não acreditar.
e confesso que dói sim, muito, não ter razão para estar, para ser, para viver.
a única escapatória é a liberdade. a liberdade como último suspiro disso que se tem mas não se sabe o que é, que vem presa em nós (portanto nos é) e não sabemos como faz para deixar que nos seja.
eu não escolhi ser o que sou. pode parecer uma negativa covarde, uma partida precipitada, mas eu não temo.
a única coisa da qual eu tenho medo, mostra-se encarnada diabolicamente no que considero mais valoroso na minha existência.
há palavras que nunca se esquece.
há sensações que terapia nenhuma consegue amenizar.
há dores que nenhum anestésico pode neutralizar.
há fatos que nunca deixarão de existir.
há pessoas que nunca mudam.

a dor.
a dor é inevitável.
e dizem que o sofrimento é opcional.
bom, nunca foi-me oferecida a opção. vim ao mundo predestinada a isso, parece. uma maldição.

eu preciso acreditar, mais e somente, em mim. sendo sincera ou farsante. não há como enganar a própria natureza.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

saudades de mim

27-08-2008

duas e vinte e sete da madrugada. e nada faz sentido.

a saciedade é um tédio, como diria Álvares de Azevedo, velho amigo que reencontrei há pouco.

hoje (espero eu, otimista) será um dia cheio.
mas se for do jeito que deve ser, o jeito como seu sorriso ilumina o cômodo não deixará com que seja tedioso. e saciará. saciará uma saudade já desproporcional em relação ao desejado. um amor já destilado, que pois então deve ter sua queimação apreciada aos poucos e com cautela, para que não venha a queimar a garganta novamente com seus disparates irremediáveis.
é consolador saber que eu não consegui estragar tanto tudo. ou pelo menos saber que eu acredito nisso. saber que eu acredito n'algo já é um grande avanço. saber que eu acredito em não ter estragado algo é um avanço maior ainda.

atravessar a Lagoa-Barra amarra-me a garganta. desde sempre, não se pergunte porquê.
é o passado perto demais.
um passado remoto, um passado saudosista
(odeio pensar numa palavra e não ter certeza de que seu significado abrange o que eu quero dizer e então, não achar o dicionário. odeio dicionário na internet.) (então.. saudosista, ou saudoso, segundo o site.)
, um passado que nada mais foi do que um presente inocente, o mais inocente de todos desde que entendida por gente e então, pressuposto, entendida por capaz de causar dor e prazer sem medir conseqüências.
do primeiro beijo, velado (velado é trágico e mórbido o suficiente) por uma responsabilidade esquizofrênica
ao primeiro sentimento fraternal de pertencer eternamente a alguém e tê-la pertencida, sem lembrar-se já direito onde e porque a vida te permitiu encontrar alguém que te dá segurança só por pensamento, seja lá onde esteja e como estiver.
me sinto impotente, preguiçosa, acomodada. queria poder te pegar nos braços e girar mais vezes. queria poder ouvir sempre você contar das suas aventuras daquele jeito pausado com voz de mulher jovem que ainda me causa certo estranhamento, visto que te tenho sempre como uma moleca. e saber que essa moleca cresceu e eu vi o quanto julgo insuficiente e agora é um mulherão. e saber que o tempo tá passando, que passaram-se já 3 anos, mas que virão muitos ainda. muitos, muitos. senão todos.
e agora, sendo a amante piegas que eu sou, o ar já me chega com dificuldade aos pulmões, enquanto as lágrimas me chegam com facilidade extrema à face.
e então eu me sinto medíocre, por derramar com muito mais freqüência as mesmas lágrimas por paixões passageiras.
e me sinto então desprezível, ao saber que as de agora, tão infinitamente nobres, se fazem ausentes e talvez desnecessárias.
sem dúvida, só se dá valor quando se sente falta.

perdi o rumo intencional do início do texto, mas me sinto melhor. não que eu me sentisse mal antes.
eu preciso me sentir assim mais vezes, mas a parelha do presente e o sentimento de não ter o que eu preciso impede.

posso não ter o calor falso de um determinado corpo masculino fantasiado a meu gosto junto a mim sempre que julgo preciso (deixando claro que meu julgamento não deve necessariamente ser levado a sério, pois na maioria das vezes eu mostro-me apenas como uma lasciva limítrofe).
posso aceitar que não foi minha respiração que buscaste então aquela noite.
posso aceitar que não é medo e sim piedade que tens por mim.
tudo isso não passa de coisa alguma verdadeiramente importante.

antes a transcendência de um amor, entrelinhas puro, infinito, inescrupuloso, invejável
do que ter a ousadia de deixar-se poluir o coração pela fumaça ainda quente produzida pela combustão como que de material plástico sem valor.

três e vinte e oito da madrugada. e tudo faz sentido.

a saciedade é um tédio, como diria Álvares de Azevedo, velho amigo que reencontrei há pouco.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Infelizmente há sensações que ao menos eu, não consigo descrever.
E isso é perigoso, levando em consideração que a escrita me é a forma de desabafo mais confortável.
Mal estares físicos. Diagnosticação relativamente simples. Cura-se descrevendo ao médico o que se sente.
Mal estares emocionais/psíquicos/espirituais/dimensionais. Diagnosticação [?] mais complicada. Cura-se [?] descrevendo o que se sente.
E eu sinto que perdi.
Perdi o dom.
Talvez o dom de sentir. Talvez o dom de entender que estou sentindo. [pois o de entender o que estou sentindo seria exigir demais]
Talvez o dom de ser algo que não me é, que, infelizmente, parece se mostrar frequentemente como o que me faz mais falta.
Enfim.
Devaneios.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Porque nem sempre há inspiração para manter um blog.