A vida é tão engraçada. Uma hora você está vivendo tranqüilo e contente e na outra, sem perceber, você está esmagado entre o chão e o sapato de alguém.
E morto, aliás.É hilário.
Queria fazer aqui, um brinde à lagartinha, da qual eu senti encanto, nojo, afeto e um medo irracional e incompreensível de tocá-la.
Quem és tu?- me pergunta a lagartinha.
Sempre hei de me lembrar dela e sua pergunta. Ela pareceu gostar da minha mochila verde BR Mania. Mesmo depois de ter sido arremessada para o alto e ter se fingido de morta em cima do mato por uns dois minutos, ela veio por entre as folhas, graciosamente para subir o degrau de concreto. È uma existência tão perecível e quebrável, que num momento de distração da Morte.. cadê a lagartinha? Ops. Um sapato alheio se levanta de saudade e luto, tirando o pé da fuça da Morte. Deixando ela se levantar do chão e escapar, levando a lagartinha consigo, pois a Morte não tem medo nem nojo de tocar na alma da lagartinha. Não é irracional. Apenas incompreensível, porque eu também o sou e a lagartinha também o é. Alguém que não tem também nojo nem medo de tocar no corpo do delito, tira a esmagadinha do concreto frio e insensível e a joga no matinho, que é a cova apropriada e acolhedora que todos querem. Eu sei que eu gostaria de ser jogado no matinho depois de morto. Claro que eu tomei vinho em memória dela, para brindar a uma nova vida. A beleza da comunhão é também tristeza. No auge do inverno o sol está reinando no manto azul do céu e raiando suas espadas douradas e geladas. Espadas de metal gelado e cor quente
que corta a alma da gente. Uma rima dolorida. Congelada. Como o corpo da lagartinha congelou. E como sua alma precisava ser aquecida pelas mãos do inverno de luvas quentes. O vinho aquece a minha alma, que eu não sei se tenho. Mas acho almas tão bonitas. Até a ausência de alma é bonita. A lagartinha continua sendo bonita. E eu vou sempre me lembrar dela e sua pergunta calada e perturbadora. Me sentiria um terrível esmagador se fosse eu o dono do pé, do sapato, do passo. Não que tenha sido culpa do dito cujo. Não foi culpa de ninguém. Talvez foi a altura dele a culpada. Quanto mais altos, mais bobos somos. Bobos desastrados de passos desastrosos andando pela rua. Quebrando o silêncio, a paz, a lagartinha. Mas desta vez algo foi diferente, porque eu não senti que estava tudo perdido. A lagartinha não foi perdida. Quando uma coisa se quebra, se torna... pedaços. Um pedaço pra cada um. Não devemos tirar mais do que damos...
A beleza é efêmera ou eterna? Não sei dizer. A lagartinha gosta de folha. Ambas duram mais do que a borboleta e a flor. As pessoas tendem a gostar mais de flores e borboletas que são as mais efêmeras. Eu gosto de comer folhas. Comer flores é bom também.
Um passo tem uma distância sutil, entre a distração e a destruição. Um passo te pisa o coração. O peso do passo é o mesmo peso que o concreto tem sobre a terra fofa. A culpa fica entre a lagartinha e a borboleta.
O cuidado dos meus passos é de derramar tinta e sujar o chão incolor e concreto. O cuidado dos meus passos é de desbotar os corações coloridos e abstratos. O som dos meus passos vem do passo pulsante ou do chão pisado? O som é o passo que pisa no meu coração pisado e pulsante. Os meus passos são o cheiro da minha vida. É o compasso involuntário e controlado.
A lagartinha não tem passos. A lagartinha tem coração.
A lagartinha se move graciosa como uma cor dançante.
O passo da lagartinha é diferente. È um passo escorregado. Uma cor escorregando no compasso.
"O essencial é invisível para os olhos..."
Antoine de Saint-Exupéry
Um brinde à lagartinha!
Tim Tim
8 comentários:
Fran Cisco Quase Nada.
Cara o Saulo foi Genial, ele esse foi o conto mais bem escrito de todos os blogs que já li, me apaixonei pela alma desdentada do saulo.
igor é um hipócrita já matou várias lagartinhas
matei mesmo.
): eu sempre digo pra não matar. Até hoje me dói aquela lesma que queimamos sem querer.
PÁ, PÁ.
Lagartinha, uma viagem pela mente do Saulo pela primavera.
Timtim
genial isso...
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