terça-feira, abril 14, 2009

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Vou lhe dar um nome um nome bem próprio: Vaz.
Vaz me queira!
Vaz me pegue!
Vaz me tenha!
Vaz não vá.

O nome que te estampa não poderia ser mais encaixado. Agora me diga, o que é encaixar? É fazer os dois se juntarem? É fazer dois pedaços se grudarem por completo formando um só objeto? Maciço? Ferrado? Fundido? É isso que é encaixar Vaz? Diga-me que encaixar é fundir-se Vaz! Sem vazar sequer um pedaço de alma Vaz, diga!

Disse então que não, Renata! Que isso é coisa de gente que se faz proceder à fundição ou a função de. Gente que derrete, que lança, que se molda. Isso aí é juntar, adunar! É consumir, render-se, derreter-se, sumir-se, incorporar-se, afundar-se!
Que merda é essa? Isso não é divino, não é coisa do Todo Poderoso! Aquele mesmo! Aquele que é inteirão, omnipresente, que não se funde a nada, que se basta!

Vaz, não sou inteira, não me basto, não me satisfaço, não sou Deusa, não sou suficiente. Eu te preciso Vaz, sou um caco, um fiasco. Não posso ficar assim sendo um fragmento, não quero ir pra cova sendo um cacaréus. Imagina! Toda a minha família chorando por um cacaréus! Seria no mínimo vergonhoso, Vaz!

Porra Vaz! Vem aqui, chega mais perto, cale a sua boca ofensiva, beija a minha que é tão afável, chegue mais. Entende o que é âmago, o que é essência, o que é essencial, cheira, sente!
Agora sinta aqui um poço escuro Vaz, me diga o que significa esse pedaço de carne ocupando o meu buraco vazio Vaz! Diz agora que você se basta, diz agora que isso não é divino, que encaixe não existe, que minha idéia não consiste, que meter não é digno de ti.
Diga-me que não existe juntura Vaz!
Diz!
Vai Vaz!
Vaza-te, não deixa escapar nenhum pedaço de alma.
Agora ingressado de boca calada, pleno, cabal, satisfeito sedo maciço, ferrado e fundido me diga enfim!
Como se sente sendo um objeto!?

segunda-feira, abril 13, 2009

Foda-me.

Até mais piolho, volte sempre, não volte nunca, nunca mais me olha, não quero mais nada, mal trata, arrasa.

Maroca, eu?
Sim, niña de mierda, tensa , xérxia.
Venha lisérgico, andar por aí sem mais nem menos, sem pés, sem braços, solto, desequilibrado, por um mastro, por um acaso.
Pense em mim.
Deseja-me, fantasia-me, lamba meus pés, chupe meus tornozelos, faça como fez, daquela vez.

Explode! Conte até três!
Vamos subir aquela ladeira até alcançar o equador, teremos um momento breve e intenso de infinito, de sol, de calor.
Quem dera ser hermética, não ter nada que vaze, que saia de mim como fumaça, vapor.
Então traga-me ,fuma-me, sorva essa merda de dor.
Estou sem controle, sem domínio dos meus sentidos.

Pegue meus olhos, boca, mãos e ouvidos.
Ponha dentro de você, sinta isso, quero você vomitando partes de mim como quem quer tirar de si as próprias tripas.
Engasgue, por fim.
Coma todo o meu cabelo, se encha de mim.
Volte, me destrua!
Inebriando-me de insônia, de loucura.
Disse-me uma vez que os trópicos influenciam a têmpera.
Vai, acalora-me!
Vamos em busca do equador, vamos subir aquela ladeira?
E no tal momento infinito quero que me foda, inteira!

sábado, abril 11, 2009

A solidão varia, espero que seja consenso isso.
Tem dias que você está de fato sozinho.
Tem dias que você está numa multidão e está sozinho. Talvez essa seja a solidão mais literalizada existente.
Todo mundo que já sentiu algo, provavelmente já se sentiu assim. Em relação a dissonância com o grupo que o cerca, ou em relação à ausência de um alguém tido como especial. Não sei à qual pretendo me referir.
Eu queria falar sobre a solidão e a música. A solidão e os sentidos. A solidão e a partir destes, a imaginação. A solidão e outras tantas entrelinhas.
Referindo-me agora a essa solidão como uma longa cadeia de átomos de saudade.
A saudade é proporcional à intensidade da presença do objeto que faz falta. Só se tem saudade do que um dia já esteve paupavelmente presente (é claro que frutos da imaginação são tão paupáveis [ou até mais] do que frutos de árvores).
Eu venho sentindo muita saudade e por conseguinte, muita solidão.
A banda, o filme, o toque do celular, o gesto, os frames na cabeça. Todos com um significado extra 'emprestado' de algo que possuía até então, um significado próprio e independente.
Estar com eles é como estar naquele lugar, com aquela pessoa, naquele tempo.
É como não estar aqui.
A imaginação e a memória, de fato, são os bens mais preciosos para quem deseja (talvez 'precisa' seja mais adequado. ou não) de alguma maneira, fugir ou ao menos lidar melhor com o escafandro que o envolve.
E a intensidade que não conseguiu impregnar em nada posteriormente sensível?
É isso que tá me causando um asco. É a parte que me interessa. Porque sobre estar só assim, eu não sei. É estar só demais.

(Se não fizer sentido, então você entendeu. Se você entendeu, me explique.)

domingo, abril 05, 2009

último suspiro.

"Agora de madrugada estou pálida e arfante e tenho a boca seca diante do que alcanço. A natureza em cântico coral e eu morrendo. O que canta a natureza? a própria palavra final que não é nunca mais eu. Os séculos cairão sobre mim. Mas por enquanto uma truculência de corpo e alma que se manifesta no rico escaldar de palavras pesadas que se atropelam umas nas outras — e algo selvagem, primário e enervado se ergue dos meus pântanos, a planta maldita que está próxima de se entregar ao Deus. Quanto mais maldita, mais até o Deus. (...) É mais um presságio de vida que vida mesmo. Eu a exorcizo excluindo os profanos. No meu mundo pouca liberdade de ação me é concedida. Sou livre apenas para executar os gestos fatais. Minha anarquia obedece subterraneamente a uma lei onde lido oculta com astronomia, matemática e mecânica."

(C.L.)