sábado, setembro 19, 2009

A Sobriedade das Cores

Na esperança de que algo causasse estranheza ao que sentia, abriu a gaveta do armário e logo de primeira conseguiu identificar o objeto que a faria melhor. Analisou por alguns instantes a forma insegura e pensou no espaço em que ocuparia em seu corpo caso resolvesse engolir tudo de uma única vez.
Em poucos passos alcançou a janela e olhou para baixo ainda segurando o frasco. Tentou agarrar com a mão que lhe sobrara um pouco de ar para levar aos pulmões, como fazia ainda menina e ficou a pensar se não era o ar que abraçaria sua mão e não ela e sua tentativa anterior.
Olhou ao redor e viu as paredes do apartamento muito bem pintadas com cores sóbrias e por instantes o objeto que carregava consigo desequilibrou a sobriedade das paredes, infligindo uma espécie de nova regra ao espaço.
Retornou a gaveta do armário, abriu, e logo de primeira conseguiu identificar o objeto que a faria melhor. Como se previsse o próximo passo pensou que o ar faria bem para seus pulmões e com a mão que lhe sobrara agarrou sobriamente a outra mão, olhou para baixo e pensou no espaço em que ocuparia em seu corpo caso resolvesse engolir todo o ar de uma única vez.
Logo encontrou as paredes dentro do frasco e em longos passos alcançou o ar sóbrio que adentrava no apartamento e fazia com que suas mãos ficassem nervosas, respirou o desequilíbrio para seus pulmões e o seu rosto bem pintado causou estranheza ao se olhar na janela, e como se ainda fosse menina olhou para baixo agarrada ao frasco e desequilibrando as nuvens infligiu uma nova regra ao apartamento.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Do Sentir

Aquele corpo contra o seu transmitia algo distinto, que chegou a chamar de amor por um instante, sacudindo então sua cabeça como que para espantar uma idéia errada. Parou por um momento, concentrando-se apenas em gravar a sensação para poder mais tarde recordar-se. Se não memorizasse cuidadosamente tudo o que sentia, um dia não lembraria mais do que se passou com seu coraçãozinho pequeno, e quando não se lembra o que se sente, não se lembra o que se é.
- "Porque ser humano é ser sentimento", suspirou, num som imperceptível aos ouvidos do outro.


...



E naquela tarde, ao ouvir o som que saía dos lábios alheios formando as palavras "eu te amo", não soube reagir; receou passar a impressão errada, teve medo de parecer indiferente diante de tais palavras. Mas o problema não era indiferença, ou a não-correspondência daquele sentimento - é que sempre temera essa declaração. Tinha a impressão de que, nomeando aquilo que sentia de Amor, transmitiria uma certa prepotência: quem era ela, para conceituar esse tal de Amor?
Reparando na expressão aflita que se formava no rosto daquele que ousou fazê-lo, apressou-se em tentar explicar que aquilo que sentia não era de menor importância, veracidade ou magnitude:
- "Ah, sentimento não tem nome. Amor não tem nome, também, é só apelido."

terça-feira, setembro 15, 2009

Meu Amor.

Ele olho nos olhos dela e disse:
- Nada posso comparar com seu toque, não há nada que eu possa querer além de você. Inqüestionável é, eu te amo.
Ela assustada com a declaração, ficou calda e por um instante e retrucou:
- Mas eu não te amo. Aos pé de Amanda ele caiu, ela abaixou até Claudio e continuou:
- E nunca amarei, você e nenhum outro, mas posso oferecer o toque que tanto deseja, ofertar meu corpo e minha luxúria. Por uma ultima vez.
Claudio tremeu com as ultimas palavras de Amanda e questionou, entre gemidos e lágrimas.
- Por que uma ultima vez? Sem pensar, Amanda respondeu.
- Não vou ficar me deitando com chorão, muito menos com um homem apaixonado por mim. Levantou-se e conclui
- Amanhã será sua ultima noite, uma pena estar nesse estado deplorável, senão resolveria hoje mesmo.
Virou-se e partiu sem olhar pra traz.

domingo, setembro 06, 2009

Falácias Da Revolução

Constantes momentos nos sentimos revolucionários, mas que belos palhaços são aqueles, que aceitam as mesmices de sertão árido e escasso. Já mudou! Pois o gordo de sangue azul não é mais a quem devo servir, não somos mais as fezes do Reino Divino e a Louca não deve ser salva. Agora sou a graça de um império, que nem divino é mais. Eles abusam de do meu doce e usam nossas mulheres como se fossem putas desalmadas, nos chamam de cucarátios. Sou cucarátio, mas não sou palhaço imperial . Ousam dizer que meus irmãos, dominadores da arte de compartilhar, enquanto fumam seus divinos charutos, que são os vilões da união. Escravizam-nos e não vemos, fazem que os meus acreditem que vivemos em mundo ideal, mas honestamente acho que aqui é o umbral, contam que a revolução é apenas uma falácia, entretanto verossímil é contar, que dessa terra de cucarátios nascerá a revolução dos sonhos.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Frô

A princípio não a tocas, receando ferir-lhe as pétalas. Tomas coragem em seguida e, cuidadosamente, a seguras por seu caule, seus espinhos furando-lhe a palma das mãos pequenas - mas não ligas. Levas seu perfume a teus pulmões, tragando aquela fragrância dos amores que foram um dia também frágeis pétalas nas flores de primavera. Mas agora chega o outono, e seus espinhos cravados nos teus dedos são tudo o que fica contigo. Mas não choras, não, nem te desesperas; apenas recolhes o seco caule em um gesto de calma inquebrável, guardando-o para ti até que chegue o próximo equinócio.