quinta-feira, dezembro 10, 2009

Crime e Loucura

Estive doente
doente dos olhos, doente da boca, dos nervos até.
Dos olhos que viram mulheres formosas
da boca que disse poemas em brasa
dos nervos manchados de fumo e café.
Estive doente
estou em repouso, não posso escrever.
Eu quero um punhado de estrelas maduras
eu quero a doçura do verbo viver.



De um louco anônimo

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Fim

Ele entrou pegando-a pelo pescoço e a deixando sem ar, a morte era seu desejo, a vida já não interessava mais a ela, mas que conveniente?
Só que ele era fraco demais, ainda apaixonado pela puta que destruir sua vida, ela não entendia sua fraqueza não era dessas, que choram, que parecem e que são santas, olhava para ele com desprezo e confusão, ele irado chutava as pernas de Lucia, Lucia ria da cara de Veríssimo, ele chutava com mais força. Os dois sabiam que dos chutes ele não passaria então ela resolveu levantar-se, pegar a arma que ela guardava na penteadeira, cuspir-lhe a cara e atiras 5 vezes no abdômen dele.
Morto por ela caiu no chão, ela pensou já que a proposta era matá-la desde os principio, que seria demasiado errado não atender o ultimo pedido de Veríssimo, botou a arma na boca e estourou os miolos, caiu as pés dele. Por ser uma casa de campo ninguém ouviu os tiros, então os corpos ficaram lá tanto tempo que quando foram achados nem puderam reconhecê-los, foram enterrados como mero indigentes, um nobre burguês e uma puta de classe.

sexta-feira, novembro 20, 2009

Pedaço de vida, pedaço de alma.
Pedaço dele próprio descansando no ventre daquela que o completa.
Que aquele pedaço era seu, que era também dela e era ainda mais outro pedaço que não pertencia a nenhum dos dois.
E que quando a semente virasse planta finalmente, ele iria todos os dias olhar nela tudo aquilo que era a mãe: em seus cabelos, compridos em cachos, em suas sardas, nas três pintas do ombro esquerdo.
Pedaço de ser que era o seu amor depositado no fundo da alma de mulher.

- Vai se chamar Cora, disse, apoiando as mãos com zelo na barriga de vida da outra.



" De anca na anca dela
E amanheça de cabeça dentro dela
"

terça-feira, novembro 17, 2009

Aparecer offline

Quando o jovem completa dezoito anos está apito a sair e freqüentar todas as festas que sempre viu fotos em fotologs e em perfil de “gente famosa” no orkut. Quer sexo, drogas, rock’n’roll a noite toda e festa todos os dias. Mas ninguém contava que tinha um ano no meio do caminho.

Entretanto, quando passa a freqüentar tais festas percebe que esses seres não são tão bonitos e legais. E que essas festas sem álcool seriam um porre. Por mais que você lute contra um dia se pega numa festa fazendo pose com aquele que um dia já foi apenas imagens na tela.

E um dia, algo grita dentro de você. É insuportável, as mesmas pessoas e musicas e lugares. E se pergunta, como eles agüentam? Você ainda tenta variar, mas mesmo escapando e curtindo outras festas quando volta você nada mudou. E você se pergunta novamente, o que eu to fazendo aqui?

Nessa hora que entra nosso status aparecer offline, você caminha até ao bar e com toda calma faz seu pedido com o cigarro na boca ainda apagado:

- Uma dose de vodca, sem gelo. Por favor.

É, no meio do caminho tinha um ano.

sábado, outubro 10, 2009

Lá na terra dos broncos, ela menina-mulher não se deixa abater, mas um dia a força do sujo e seus desejos a possuíram. Em seus seios uma marca de guerra foi deixada, com peitos nus e marcados ela caminhou.

Chegou a uma rameira falante que a amavelmente a socorreu, dizia-a que entendia suas dores, entretanto a pobre coitada nada sabia sobre Bianca, assim perdida levou-a ao vilarejo que a menina-mulher freqüentava, lá elas encontraram um nobre infante que friamente a socorreu.

Nem ele compreendeu seu coração que sempre foi gélido palpitava no ritmo do choro de Bianca, seu desejo de proteção e seu estranho afeto tornaram-se medo e culpa. Sua alma banhada de vergonha fez menos do que poderia, porem conseguiu resguardar a idéia de honra que todos e nem todos possuíam dela.

Feridos, O Nobre-Infante e A Menina-Mulher se olharam, tentaram, mas não conseguiram sorrir, sem abraço ou despedida. Eles dormiram pra tentar esquecer.

sábado, setembro 19, 2009

A Sobriedade das Cores

Na esperança de que algo causasse estranheza ao que sentia, abriu a gaveta do armário e logo de primeira conseguiu identificar o objeto que a faria melhor. Analisou por alguns instantes a forma insegura e pensou no espaço em que ocuparia em seu corpo caso resolvesse engolir tudo de uma única vez.
Em poucos passos alcançou a janela e olhou para baixo ainda segurando o frasco. Tentou agarrar com a mão que lhe sobrara um pouco de ar para levar aos pulmões, como fazia ainda menina e ficou a pensar se não era o ar que abraçaria sua mão e não ela e sua tentativa anterior.
Olhou ao redor e viu as paredes do apartamento muito bem pintadas com cores sóbrias e por instantes o objeto que carregava consigo desequilibrou a sobriedade das paredes, infligindo uma espécie de nova regra ao espaço.
Retornou a gaveta do armário, abriu, e logo de primeira conseguiu identificar o objeto que a faria melhor. Como se previsse o próximo passo pensou que o ar faria bem para seus pulmões e com a mão que lhe sobrara agarrou sobriamente a outra mão, olhou para baixo e pensou no espaço em que ocuparia em seu corpo caso resolvesse engolir todo o ar de uma única vez.
Logo encontrou as paredes dentro do frasco e em longos passos alcançou o ar sóbrio que adentrava no apartamento e fazia com que suas mãos ficassem nervosas, respirou o desequilíbrio para seus pulmões e o seu rosto bem pintado causou estranheza ao se olhar na janela, e como se ainda fosse menina olhou para baixo agarrada ao frasco e desequilibrando as nuvens infligiu uma nova regra ao apartamento.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Do Sentir

Aquele corpo contra o seu transmitia algo distinto, que chegou a chamar de amor por um instante, sacudindo então sua cabeça como que para espantar uma idéia errada. Parou por um momento, concentrando-se apenas em gravar a sensação para poder mais tarde recordar-se. Se não memorizasse cuidadosamente tudo o que sentia, um dia não lembraria mais do que se passou com seu coraçãozinho pequeno, e quando não se lembra o que se sente, não se lembra o que se é.
- "Porque ser humano é ser sentimento", suspirou, num som imperceptível aos ouvidos do outro.


...



E naquela tarde, ao ouvir o som que saía dos lábios alheios formando as palavras "eu te amo", não soube reagir; receou passar a impressão errada, teve medo de parecer indiferente diante de tais palavras. Mas o problema não era indiferença, ou a não-correspondência daquele sentimento - é que sempre temera essa declaração. Tinha a impressão de que, nomeando aquilo que sentia de Amor, transmitiria uma certa prepotência: quem era ela, para conceituar esse tal de Amor?
Reparando na expressão aflita que se formava no rosto daquele que ousou fazê-lo, apressou-se em tentar explicar que aquilo que sentia não era de menor importância, veracidade ou magnitude:
- "Ah, sentimento não tem nome. Amor não tem nome, também, é só apelido."

terça-feira, setembro 15, 2009

Meu Amor.

Ele olho nos olhos dela e disse:
- Nada posso comparar com seu toque, não há nada que eu possa querer além de você. Inqüestionável é, eu te amo.
Ela assustada com a declaração, ficou calda e por um instante e retrucou:
- Mas eu não te amo. Aos pé de Amanda ele caiu, ela abaixou até Claudio e continuou:
- E nunca amarei, você e nenhum outro, mas posso oferecer o toque que tanto deseja, ofertar meu corpo e minha luxúria. Por uma ultima vez.
Claudio tremeu com as ultimas palavras de Amanda e questionou, entre gemidos e lágrimas.
- Por que uma ultima vez? Sem pensar, Amanda respondeu.
- Não vou ficar me deitando com chorão, muito menos com um homem apaixonado por mim. Levantou-se e conclui
- Amanhã será sua ultima noite, uma pena estar nesse estado deplorável, senão resolveria hoje mesmo.
Virou-se e partiu sem olhar pra traz.

domingo, setembro 06, 2009

Falácias Da Revolução

Constantes momentos nos sentimos revolucionários, mas que belos palhaços são aqueles, que aceitam as mesmices de sertão árido e escasso. Já mudou! Pois o gordo de sangue azul não é mais a quem devo servir, não somos mais as fezes do Reino Divino e a Louca não deve ser salva. Agora sou a graça de um império, que nem divino é mais. Eles abusam de do meu doce e usam nossas mulheres como se fossem putas desalmadas, nos chamam de cucarátios. Sou cucarátio, mas não sou palhaço imperial . Ousam dizer que meus irmãos, dominadores da arte de compartilhar, enquanto fumam seus divinos charutos, que são os vilões da união. Escravizam-nos e não vemos, fazem que os meus acreditem que vivemos em mundo ideal, mas honestamente acho que aqui é o umbral, contam que a revolução é apenas uma falácia, entretanto verossímil é contar, que dessa terra de cucarátios nascerá a revolução dos sonhos.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Frô

A princípio não a tocas, receando ferir-lhe as pétalas. Tomas coragem em seguida e, cuidadosamente, a seguras por seu caule, seus espinhos furando-lhe a palma das mãos pequenas - mas não ligas. Levas seu perfume a teus pulmões, tragando aquela fragrância dos amores que foram um dia também frágeis pétalas nas flores de primavera. Mas agora chega o outono, e seus espinhos cravados nos teus dedos são tudo o que fica contigo. Mas não choras, não, nem te desesperas; apenas recolhes o seco caule em um gesto de calma inquebrável, guardando-o para ti até que chegue o próximo equinócio.

domingo, agosto 30, 2009

A Lagartinha

A vida é tão engraçada. Uma hora você está vivendo tranqüilo e contente e na outra, sem perceber, você está esmagado entre o chão e o sapato de alguém.

E morto, aliás.É hilário.

Queria fazer aqui, um brinde à lagartinha, da qual eu senti encanto, nojo, afeto e um medo irracional e incompreensível de tocá-la.

Quem és tu?- me pergunta a lagartinha.

Sempre hei de me lembrar dela e sua pergunta. Ela pareceu gostar da minha mochila verde BR Mania. Mesmo depois de ter sido arremessada para o alto e ter se fingido de morta em cima do mato por uns dois minutos, ela veio por entre as folhas, graciosamente para subir o degrau de concreto. È uma existência tão perecível e quebrável, que num momento de distração da Morte.. cadê a lagartinha? Ops. Um sapato alheio se levanta de saudade e luto, tirando o pé da fuça da Morte. Deixando ela se levantar do chão e escapar, levando a lagartinha consigo, pois a Morte não tem medo nem nojo de tocar na alma da lagartinha. Não é irracional. Apenas incompreensível, porque eu também o sou e a lagartinha também o é. Alguém que não tem também nojo nem medo de tocar no corpo do delito, tira a esmagadinha do concreto frio e insensível e a joga no matinho, que é a cova apropriada e acolhedora que todos querem. Eu sei que eu gostaria de ser jogado no matinho depois de morto. Claro que eu tomei vinho em memória dela, para brindar a uma nova vida. A beleza da comunhão é também tristeza. No auge do inverno o sol está reinando no manto azul do céu e raiando suas espadas douradas e geladas. Espadas de metal gelado e cor quente
que corta a alma da gente. Uma rima dolorida. Congelada. Como o corpo da lagartinha congelou. E como sua alma precisava ser aquecida pelas mãos do inverno de luvas quentes. O vinho aquece a minha alma, que eu não sei se tenho. Mas acho almas tão bonitas. Até a ausência de alma é bonita. A lagartinha continua sendo bonita. E eu vou sempre me lembrar dela e sua pergunta calada e perturbadora. Me sentiria um terrível esmagador se fosse eu o dono do pé, do sapato, do passo. Não que tenha sido culpa do dito cujo. Não foi culpa de ninguém. Talvez foi a altura dele a culpada. Quanto mais altos, mais bobos somos. Bobos desastrados de passos desastrosos andando pela rua. Quebrando o silêncio, a paz, a lagartinha. Mas desta vez algo foi diferente, porque eu não senti que estava tudo perdido. A lagartinha não foi perdida. Quando uma coisa se quebra, se torna... pedaços. Um pedaço pra cada um. Não devemos tirar mais do que damos...

A beleza é efêmera ou eterna? Não sei dizer. A lagartinha gosta de folha. Ambas duram mais do que a borboleta e a flor. As pessoas tendem a gostar mais de flores e borboletas que são as mais efêmeras. Eu gosto de comer folhas. Comer flores é bom também.
Um passo tem uma distância sutil, entre a distração e a destruição. Um passo te pisa o coração. O peso do passo é o mesmo peso que o concreto tem sobre a terra fofa. A culpa fica entre a lagartinha e a borboleta.
O cuidado dos meus passos é de derramar tinta e sujar o chão incolor e concreto. O cuidado dos meus passos é de desbotar os corações coloridos e abstratos. O som dos meus passos vem do passo pulsante ou do chão pisado? O som é o passo que pisa no meu coração pisado e pulsante. Os meus passos são o cheiro da minha vida. É o compasso involuntário e controlado.

A lagartinha não tem passos. A lagartinha tem coração.
A lagartinha se move graciosa como uma cor dançante.
O passo da lagartinha é diferente. È um passo escorregado. Uma cor escorregando no compasso.

"O essencial é invisível para os olhos..."
Antoine de Saint-Exupéry

Um brinde à lagartinha!
Tim Tim

sexta-feira, agosto 28, 2009

Lábios

Ana era mãe, jovem e simpática. Apesar do desquite devido as violências do marido, ela era feliz. Mantinha uma beleza exótica, já os seus três filhos eram donos de belezas angelicais e almas de demônio, como o pai. Ela não ambicionava o amor, estava plena do jeito que estava, era professora primaria, tinha mudado para casa de seus pais, pois temia o marido. De tão simpática fez muitos amigos, entre eles Rosa estava, a melhor amiga de todos, ela era especial. Rosa também era desquitada e era uma ano mais nova que Ana, tinha um filho na idade da mais velha de Ana. Tudo seguia muito bem, até que Ana descobriu que o seu caçula tinha uma doença rara, que veio a mata-lo meses depois. Arrasada e perdida, só queria a companhia da mais fiel das amigas, nem mesmo os filhos ela queria por perto, não gostava que eles a vissem naquele estado, devido a proximidade Rosa era mais que uma amiga para Ana, ela começou a deseja-la, desejar seu corpo, por não compreender o que passava manteve segredo, mas a tortura era tanta, que o segredo não perdurou, ela tomou coragem e declarou-se, por surpresa Rosa a respondeu Agarrando-a contra o seu corpo, tiveram a sua primeira noite de amor, loucas, loucas, nuas e perdidas amavam-se , Com o sol veio os problemas e preocupações que essas mães poderiam enfrentar mantendo essa relação, esse amor proibido, por pouco tempo mantiveram sigilo, mas por não compreender o motivo do segredo, gritaram a todos, pois voz elas tinham, e o pior que foram ouvidas. A reação daqueles nada tinha com isso, foi monstruosa, por isso fugiram, com suas crias para viver essa história, não foi fácil e dia nenhum, mas foram felizes até o dia de suas mortes.

quarta-feira, agosto 26, 2009

Felina

Não é um bom momento, pensava Giovana, depois de tudo que ela tinha dado às únicas coisas que ela recebia eram magoas, grosserias e ofensas. Com muita elegância ainda matinha um sorriso falso, mas seus olhos estavam cansados, ela se mantinha artificialmente alegre, enquanto aquela menina estava triste, sim era uma menina já em corpo de mulher, ela se sentia sozinha, abandonada por todos, o pior que ela não via sua identidade, não enxergava o que era, quem era. Giovana só queria ser criança e deitar em um colo qualquer e dormir em paz, mas já era tarde, não podia desfazer a imagem de leoa, que construiu com árduo trabalho, agora se arrepende, sempre sendo durona, mas uma menina forte ninguém põe no colo, ninguém cuida e ninguém ama, e agora o momento que ela mais precisa ser forte, ela não consegue e percebe que não é um bom momento, vai até o seu leito e chora deitada, chora até não ter mais forças, chora até desmaiar e nunca mais acordar.

sexta-feira, agosto 21, 2009

Artimanha da Monogamia

Áspero era seu toque, meio bruto a ponto de marcar a pele suave dela, Dinorah era docilmente violentada pelo seu amante insaciável, homem típico a um medieval, homem lindo e natural a carregava como se fosse de pano. Ela chorava de alegria, como o amava e amava tê-lo entre suas pernas, tão viril o seu domador. Apesar de nunca ter entendido servir somente a um corpo, ela jurava que aquele denominado Francisco poderia ser seu único senhor, mesmo que ela não fosse sua única senhora.

quinta-feira, agosto 20, 2009

Não era uma vagabunda.

Laura nunca foi pura, olhos grandes e abertos, sempre observando a vida de forma fria, nem ao menos uma vez sonhou. Cética e moribunda viveu a eternidade de sua vida, louca e má traçou seu caminho, nunca amou nem odiou, mas não existe mulher na terra que foi amada e odiada como ela foi. Tédio era a sensação que a dominava a maior parte do tempo, exceto quando via a dor nos olhos de alguém, pois com toda a frieza de seu coração tinha muita sabedoria em sua cabeça e ela sabia como a vida e a dor são complementos, ao ver a dor nos olhos dos homens ela via a vida, a vida que na verdade nunca possuiu, a sensação de movimento ,quando via aquilo, a viciou. Já não podia esperar encontrar aquele olhar corriqueiro, ali começava sua loucura, pensava como torturar o coração humano, como destruir os sonhos e as esperanças, para que pudesse ver a vida, mesmo que por outros olhos, mentia, roubava e matava, tinha alguns efeitos que a agradavam, mas não era o suficiente. Aí ela começou a ser má, mostrava como um espírito velho, toda verdade, mostrava de forma minuciosa toda verdade que todos conhecem, mas acha cômodo ignora-las, no começo a agradeciam a idolatravam, mas quando vemos a verdade tão de perto não suportamos, ela que era incapaz de sonhar não era atingida, toda aquela luz os sufocavam, os matavam e ela via a essência mais pura da dor. Agora morta, ainda não é capaz de sonhar.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Infantil

Bela não era exatamente o que podemos chamar de bela, entretanto também não era o que podemos chamar de feia, não vamos perder tempo com a aparência e sim com os sonhos dessa menina tola. Ela tinha um diário rosa de fadinhas, que cheirava a morangos e todo dia depositava suas esperanças de menina comum nele, a tola sonhava com príncipe que a levaria até o céu, simplesmente por tocar os lábios dele aos dela, sonhava com a beleza incontestável de seu príncipe, que ele seria seu cavaleiro armado, cresceu assim tão idiota e esperançosa, nessa menina cresceu algo mais, sim sua beleza já não era desprazível, seu corpo já não era comum, era sensual e desenhado, mas seu rosto ainda era algo bem comum e simples. Virgem ainda era aos 23, mas não por muito tempo, conheceu um homem extremamente lindo, simpático, amigo e gentil, como seu príncipe deveria ser, só que esse era gay. Os dois viraram amigos, ela conheceu outro rapaz bonito, simpático e religioso. Pediu a mão de bela em casamento, quando faltavam duas semanas para o casamento, Bela voltando do trabalho, foi estuprada por 5 peões que estavam dormindo na obra próxima ao trabalho, entre eles foi tratada como um vaso sanitário, mas não a mataram. Quando contou ao noivo, ele desistiu dela, pois sua religião não aceitava mulheres que não fossem mais virgens, de tão mal que ela ficou, ela nem os denunciou, ao contrário ela todo dia retornava para os braços dos monstros e adorava o corpo coberto de esperma dos homens, dos peões, dos porcos que eram. E assim perdurou mais do que foi planejado, ela não podia esperar a saída do trabalho, ela os visitava antes e depois do trabalho, durante 5 meses foi assim, até que descobriu que estava grávida, a nova informação a trouxe de volta a realidade, todo os preconceito e sonhos que Bela tinha retornaram, ela sentia nojo dela mesmo e ódio do feto, então achou que ela e o parasita não deviam existir, achou que ela não já era reconhecível, pensava que devia externa isso, morrer sendo outro corpo, morrer deformada, então pegou a arma de seu avô, foi até uma boca de fumo e atirou em um traficante. Ninguém de sua família foi capaz de identificar o corpo fuzilado, assim como ela desejou.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Fábula de Fada

Mas uma luz saiu entre minhas entranhas, um novo filho que pari sem ao menos sentir, agora tenho responsabilidade de alimentá-lo, mas não vou esquecer meu velho e tolo Baú, que tanto foi fiel e esteve aqui do lado desse elfo intransigente e velhaco, que sempre cospe mariposas e vagabundas. Entro nesse novo jardim de borboletas amarelas, fazendo referencias plenas, então comessem a jogar suas flores pra que possa caminhar como um rei, pois sei que sou um e mereço as boas vindas dos porcos que aqui vivem, não se acanhem meu humor é negro infortúnio, eu estou muito contente e me deitar sobre sua cama e sonhar ao seu lado, e juntos criaremos essa criança e se formos bons ela nunca irá crescer, nossa bela absorva.

sexta-feira, junho 26, 2009

Nem fundo sem fim

,e talvez não haja dor, nem o ódio nem o tédio, e muito menos haverá o amor, aquele amor que tudo fura, na verdade deve ser só silêncio, num abismo oco sem-cor-nem-som. Só isso mesmo que fica: uma ausência enorme de si próprio.

- "Afundando aos poucos numa vertigem em direção sem direção às cores multifacetadas multifacientes as faces e as formas e depois os roxos do amor e do nojo num branco siêncio em branco como contra um muro nem fundo sem fim".

terça-feira, junho 23, 2009

Dúvida

A Flor imatura permanece calada, não pela audácia das cores do sol.
Mal sabe ela, que por uma depender da outra, tudo segue o curso da poesia.
As rosas não falam por culpa dos espinhos.


P.S.: A dimensão da minha decepção também é inimaginável.

segunda-feira, junho 22, 2009

Ela contraiu os lábios, a carne se dobrando em palavra. Ele tentou escutar, mas o som se dissolvia na chuva e escorria até o chão, não alcançando seus tímpanos cansados. Ele queria entender, entender as palavras, os gestos, Ela; queria entender por que as gotas da chuva não eram as únicas que escorriam por seu rosto marcado, fundo. Queria entender por que ela partia, por que pegaria o próximo trem e o deixaria só na estação, esperando sabe-se-lá-o-quê, com um buraco no peito e um vazio enorme nos olhos.
Ela queria saber por que Ele não entendia, queria também explicar que não era Ele, não, era Ela que não conseguia ficar presa num só lugar, numa só vida. Dizia então que queria ficar, mas que ficar lhe feria dentro-fundo, que era feito pássaro, nascera para voar.
Mas a chuva batia forte no chão, ensurdecedora, deixando todos os Porquês dela pairando no céu de nuvens negras e todos os Por quês dele vagando soltos por entre os pingos gordos de água gelada, à medida que Ela subia no trem e se afastava da estação cinza e Ele vasculhava o bolso do casaco de couro surrado, a procura da chave do carro.

domingo, junho 14, 2009

Encaminho-me ao estado de idiotice sem passado daqueles que sofrem com a doença dos que não dormem e portanto, não sonham.
Retiro-me deste espaço, que como a todos os outros, não pertenço, pois nada mais se tem a fazer aqui e em qualquer outro lugar enquanto não se é capaz de sonhar.

quarta-feira, junho 10, 2009

Para Lucas.

Sorriso grande, um menino.
Encanta-me o feminino.
Um caso, um descaso.
Um cigarro, um abraço.

Apresento-lhe com prazer e libido,
O que mais me agrada os sentidos.
Na minha mente, dúvidas e certezas.
Sem saber, ele me traz segurança e leveza.

Tão infantil, tão maduro e prudente.
Especial, me conquistou o suficiente.
Quando eu quiser filhos, prometi que o chamo.
Meu querido, meu pupilo, já posso dizer que te amo.

quarta-feira, maio 06, 2009

minha alegria, meu cansaço, meu esquema ou qualquer outra música que me lembre de como é ser feliz

enfim assumir pela enésima vez que sem eles eu não teria razão alguma pra viver.
e é deliciosamente egoísta sim, saber que é um prazer inenarrável tão particular tê-los comigo, ter-nos conosco, ter-nos em mim, que eu poderia ignorar todo o mundo e continuar vivendo numa cúpula em formato de árvore assim pra sempre.
mesmo sem saber o que é, o que será e como ser, é sem dúvidas o mais próximo do divino que eu já pude estar.
eis uma pessoa aparentemente racional e relutante em expressar sentimentos, desabando em uma saudade de algo sendo e que certamente será ainda na etérea imensidão de Cruz e Souza ou qualquer simbolismo parecido.



nota mental desconexa almejando ser base para uma posterior tese tão desconexa quanto: o amor causa esquizofrenia. lembrar da sensação de que todos estão sempre presentes em lugares, eventos e conversas que na realidade não estavam.

terça-feira, abril 14, 2009

Contíguo

Vou lhe dar um nome um nome bem próprio: Vaz.
Vaz me queira!
Vaz me pegue!
Vaz me tenha!
Vaz não vá.

O nome que te estampa não poderia ser mais encaixado. Agora me diga, o que é encaixar? É fazer os dois se juntarem? É fazer dois pedaços se grudarem por completo formando um só objeto? Maciço? Ferrado? Fundido? É isso que é encaixar Vaz? Diga-me que encaixar é fundir-se Vaz! Sem vazar sequer um pedaço de alma Vaz, diga!

Disse então que não, Renata! Que isso é coisa de gente que se faz proceder à fundição ou a função de. Gente que derrete, que lança, que se molda. Isso aí é juntar, adunar! É consumir, render-se, derreter-se, sumir-se, incorporar-se, afundar-se!
Que merda é essa? Isso não é divino, não é coisa do Todo Poderoso! Aquele mesmo! Aquele que é inteirão, omnipresente, que não se funde a nada, que se basta!

Vaz, não sou inteira, não me basto, não me satisfaço, não sou Deusa, não sou suficiente. Eu te preciso Vaz, sou um caco, um fiasco. Não posso ficar assim sendo um fragmento, não quero ir pra cova sendo um cacaréus. Imagina! Toda a minha família chorando por um cacaréus! Seria no mínimo vergonhoso, Vaz!

Porra Vaz! Vem aqui, chega mais perto, cale a sua boca ofensiva, beija a minha que é tão afável, chegue mais. Entende o que é âmago, o que é essência, o que é essencial, cheira, sente!
Agora sinta aqui um poço escuro Vaz, me diga o que significa esse pedaço de carne ocupando o meu buraco vazio Vaz! Diz agora que você se basta, diz agora que isso não é divino, que encaixe não existe, que minha idéia não consiste, que meter não é digno de ti.
Diga-me que não existe juntura Vaz!
Diz!
Vai Vaz!
Vaza-te, não deixa escapar nenhum pedaço de alma.
Agora ingressado de boca calada, pleno, cabal, satisfeito sedo maciço, ferrado e fundido me diga enfim!
Como se sente sendo um objeto!?

segunda-feira, abril 13, 2009

Foda-me.

Até mais piolho, volte sempre, não volte nunca, nunca mais me olha, não quero mais nada, mal trata, arrasa.

Maroca, eu?
Sim, niña de mierda, tensa , xérxia.
Venha lisérgico, andar por aí sem mais nem menos, sem pés, sem braços, solto, desequilibrado, por um mastro, por um acaso.
Pense em mim.
Deseja-me, fantasia-me, lamba meus pés, chupe meus tornozelos, faça como fez, daquela vez.

Explode! Conte até três!
Vamos subir aquela ladeira até alcançar o equador, teremos um momento breve e intenso de infinito, de sol, de calor.
Quem dera ser hermética, não ter nada que vaze, que saia de mim como fumaça, vapor.
Então traga-me ,fuma-me, sorva essa merda de dor.
Estou sem controle, sem domínio dos meus sentidos.

Pegue meus olhos, boca, mãos e ouvidos.
Ponha dentro de você, sinta isso, quero você vomitando partes de mim como quem quer tirar de si as próprias tripas.
Engasgue, por fim.
Coma todo o meu cabelo, se encha de mim.
Volte, me destrua!
Inebriando-me de insônia, de loucura.
Disse-me uma vez que os trópicos influenciam a têmpera.
Vai, acalora-me!
Vamos em busca do equador, vamos subir aquela ladeira?
E no tal momento infinito quero que me foda, inteira!

sábado, abril 11, 2009

A solidão varia, espero que seja consenso isso.
Tem dias que você está de fato sozinho.
Tem dias que você está numa multidão e está sozinho. Talvez essa seja a solidão mais literalizada existente.
Todo mundo que já sentiu algo, provavelmente já se sentiu assim. Em relação a dissonância com o grupo que o cerca, ou em relação à ausência de um alguém tido como especial. Não sei à qual pretendo me referir.
Eu queria falar sobre a solidão e a música. A solidão e os sentidos. A solidão e a partir destes, a imaginação. A solidão e outras tantas entrelinhas.
Referindo-me agora a essa solidão como uma longa cadeia de átomos de saudade.
A saudade é proporcional à intensidade da presença do objeto que faz falta. Só se tem saudade do que um dia já esteve paupavelmente presente (é claro que frutos da imaginação são tão paupáveis [ou até mais] do que frutos de árvores).
Eu venho sentindo muita saudade e por conseguinte, muita solidão.
A banda, o filme, o toque do celular, o gesto, os frames na cabeça. Todos com um significado extra 'emprestado' de algo que possuía até então, um significado próprio e independente.
Estar com eles é como estar naquele lugar, com aquela pessoa, naquele tempo.
É como não estar aqui.
A imaginação e a memória, de fato, são os bens mais preciosos para quem deseja (talvez 'precisa' seja mais adequado. ou não) de alguma maneira, fugir ou ao menos lidar melhor com o escafandro que o envolve.
E a intensidade que não conseguiu impregnar em nada posteriormente sensível?
É isso que tá me causando um asco. É a parte que me interessa. Porque sobre estar só assim, eu não sei. É estar só demais.

(Se não fizer sentido, então você entendeu. Se você entendeu, me explique.)

domingo, abril 05, 2009

último suspiro.

"Agora de madrugada estou pálida e arfante e tenho a boca seca diante do que alcanço. A natureza em cântico coral e eu morrendo. O que canta a natureza? a própria palavra final que não é nunca mais eu. Os séculos cairão sobre mim. Mas por enquanto uma truculência de corpo e alma que se manifesta no rico escaldar de palavras pesadas que se atropelam umas nas outras — e algo selvagem, primário e enervado se ergue dos meus pântanos, a planta maldita que está próxima de se entregar ao Deus. Quanto mais maldita, mais até o Deus. (...) É mais um presságio de vida que vida mesmo. Eu a exorcizo excluindo os profanos. No meu mundo pouca liberdade de ação me é concedida. Sou livre apenas para executar os gestos fatais. Minha anarquia obedece subterraneamente a uma lei onde lido oculta com astronomia, matemática e mecânica."

(C.L.)

sábado, fevereiro 28, 2009

E quando nenhuma música cabe no peito?
E quando nenhuma ofensa cabe na boca?
E quando nenhum disfarce cabe no ouvido?

Mais do que nunca, correndo o risco de parecer pouco modesta, eu julgo ter discernimento para agir com franqueza e coragem fronte às adversidades surreais que apresentam faces facilmente consideradas propositais por alguém comumente complexada como eu.
Me sinto livre. Fui honesta sem que isso tenha me causado nenhum tipo de vergonha ou constrangimento.
Não sei se seria egoísmo considerar que é uma conquista minha e somente minha e pra mim. Fato é que eu não me sinto dependente, nem direcionaria agradecimentos a algo ou alguém imediato.
Nunca estive me sentindo tão bem comigo mesma. Tão sinceramente bem.
O único vestígio de dor residente aqui é o da saudade daqueles que têm segurado a minha mão sempre. E junto dela uma pontinha de ansiedades (não sei ao certo até que ponto a saudade e a ansiedade podem ser separadas uma da outra). Mas não é uma ansiedade ruim. É o anseio de transcender o estado de espírito atual.
Transcender. Superar. Extrapolar o que já parece absurdo.
Como uma caixinha chinesa.



"É com uma alegria tão profunda. É uma tal aleluia. Aleluia, grito eu, aleluia que se funde com o mais escuro uivo humano da dor de separação mas é grito de felicidade diabólica. Porque ninguém me prende mais."
(Água viva, Clarice Lispector *-*)

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Estou tentando.. estou tentando.. só Deus sabe o quanto estive tentando.

E por ora, isso é apenas um desabafo prematuro de uma noite mal dormida em meio a uma rotina de excessos e deficiências.
Mas era carnaval, reza a lenda que podia tudo.



Fingindo (e forjando) estar perdida
me encontrei enfim
sozinha
às claras
e mais segura do que nunca
acostumando-se a uma nova realidade confortável de recusas que há tempos seriam inconcebíveis
Posso então talvez falar que sim, enfim, estou bem.

às 5:35 AM
(não sei pontuar corretamente manuscrevendo sonolenta no escuro)

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

see you at the bitter end.

(22:51) Craol: porque fechou?
(22:52) chay: sei lá, cansei, me senti ofendida por mim mesma escrevendo
(22:53) Craol: isso é bizarro
mas é muito bonito
(22:53) Craol: porque geralmente temos uma coisa de sempre tentarmos nos proteger
(22:54) Craol: auto preservação
é difícil se ofender
(23:04) Craol: sempre que entro me sinto tão contemplada
tenho medo de você escrevendo
(23:05) chay: eu não me sinto mais :/
sei lá que porras são essas que eu escrevo
uihsaiuhsae
é quase um alterego escritor, sendo exagerada
(23:06) Craol: talvez seja como ser dominada por esse escritor
(23:06) Craol: e não saber mais o que se é
(23:06) chay: exato
(23:07) Craol: eu me sinto assim quando namoro
não sei dizer o que sou eu ou que é ele
e isso me confunde
por isso odeio
e tenho dificuldades de me relacionar

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Não respeito o doente

Vivemos de desilusão causada por nós mesmos, apesar de sermos eternamente inocentes. É como se plantássemos sementes de melancia numa tarde de verão e à noite surgissem duendes para "desplantar" e trocá-las por sementes de acelga. Não se toma mais suco, só se come salada amarga.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

desmentindo

Acho que vou morrer de amor.
E fora o inverno e o tempo ruim, eu não sei o que espera por mim.
Esse tal doismilinove me parece tão mais uma das ironias do destino, que se souber de um show do Placebo por aqui, perigo não acreditar.


A propósito,
O céu hoje tá tão azul que é uma vergonha eu aparecer na janela tão assim descolorida.

sábado, fevereiro 07, 2009

Socorro! Não estou sentindo nada!
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar, nem pra rir

Socorro! Alguma alma mesmo que penada me empreste suas penas
Já não sinto amor, nem dor
Já não sinto nada!

Socorro! Alguém me dê um coração, que esse já não bate nem apanha
Por favor! Uma emoção pequena... Qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta!

Tem tantos sentimentos... Deve ter algum que sirva...
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos... Deve ter algum que sirva...

Socorro!
Alguma rua que me dê sentido!
Em qualquer cruzamento, acostamento, encruzilhada
Socorro! Eu já não sinto nada!



Do mestre,

Arnaldo Antunes.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Cada esquina dessa cidade parece capaz de narrar minha vida.
É possível não sentir nada?
É possível esquecer?
Das lembranças incômodas é possível fugir?

Mas ao menor indício de perigo, ameaça,
fechar os olhos com força e não se arrepender de nada.

Será essa nostalgia sintoma da imaturidade acerca do entendimento de que tudo passa?

Passa mas deixa marcas e então como lidar com o impulso de tocá-las e fazê-las através da dor e até do prazer direto ou indireto, novamente vivas?


Não sei.
Desço no ponto seguinte e ando três quarteirões na chuva.
Talvez, como antes.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Misterio Stereo

Baixei um cd novo. E não há nada de novo nisso. Me obrigo a ouvir ao menos algo novo a cada noite. Mas Deus, o que nos tempos de hoje pode ser tido como novo? Ahh, não quero me perder nesse questionamento. Não há tempo. Enquanto se discute, o novo vai perdendo sua identidade de recém-nascido e segundo a ordem natural, continua a morrer como faz desde que nasceu. (Existem sempre aqueles casos como o curioso caso de Benjamin Button. Porque nem sempre se é ingênito.)
O cd me é novo. É o que basta.
Assim como esse friozinho na barriga é composto dum simulacro que saborosamente me acorda às 4 da madrugada e me tira do desconfortável durmo-acordo-acordopradormirdenovo como se me não deixasse esquecer por algumas horas sequer o carnaval inesquecível na cidade alta que está por vir.

Eu espero que isso seja uma despedida.
Espero, acredito, creio. Finjo. Anseio que apesar de mim, amanhã haja mesmo de ser outro dia. Um dia lindo de morrer.

Ouçam a faixa 7 do cd Japan Pop Show do Curumin. (Ouçam o cd todo, é fenomenal. Tem pra baixar pelo Orkut.)
Ouçam Mombojó, ouçam China, ouçam Nação Zumbi, ouçam o barulho da chuva.
Ouçam as batidas dos seu corações e principalmente, a dos corações alheios sempre que puderem.
Não usem drogas como compositoras da rotina.
Não andem pela sombra. Andem pelo sol. Ele esquenta e faz com que suas células reclamem e se mostrem vivas pois então. Eu as apóio, pois me identifico. Sou reclamona, feita de células à minha imagem e semelhança. Sou a deusa delas.
(Particularmente andar pelo sol me lembra um curta chamado 'Chino' e me arranca um sutil sorriso.)
Não façam sexo sem amor e se puderem, não riam da minha cara nesse momento. (Mentira, façam si. Façam tudo que der na telha. Sejam de verdade, mesmo que a impulsividade não lhes seja [como não me é] uma característica tão entranhada.)
Ouçam seus pais. Um dia eles estarão mortos e não mais falarão.
Ao menos ouçam. Ouçam tudo que se fizer barulho. Ouçam tudo que se fizer silêncio.
Ouçam de olhos fechados, porém de poros abertos.

Estão ouvindo?
São seis e trinta e nove da manhã por aqui.
Ouçam os primeiros choros de alguns bebês que acabam de nascer prontos a desencadearem muitos decibéis nesse mundo que se faz de louco.
Ouçam os últimos suspiros de velhos e novos, doentes e sãos. Ouçam sim, não tapem os ouvidos a isso, por mais que dê vontade. Não enfiem os dedos nos ouvidos. A morte já está dentro de você. Eu, particularmente, deixo-a sair pelos meus sacos lacrimais sempre que tocam muito alto.
Um dia todo mundo vai morrer.
Eu estou morrendo agora.
Não se preocupem como eu me preocupo.
Lembrem-se que é a morte que faz com que a vida seja fatalmente eletrosoulsônica.
Quando eu chegar, eu lhes confirmo se não existe mesmo pecado ao sul do equador.
Sim, tenho essa esperança. Pela proximidade talvez. Quiçá sendo tão pertinho, a taxa de pecaminosidade seja menor do que a daqui.
(:

domingo, janeiro 18, 2009

Madeleine Wallace

o ego é a personagem mais covarde da história.
não considera o alheio, a menos que este esteja a seu serviço.
inescrupuloso. não mede esforços para conseguir o que quer. ou simplesmente para conseguir o que não conseguiu. esforços apenas para mostrar que pode. apenas para evidenciar a fraqueza do próximo. nesse jogo de esforços em que não importa, de qualquer jeito o adversário sairá perdendo. perdendo o que já não tinha. entrando em dívida consigo mesmo. por ter sido ingênuo. por ter se sido tanto até um ponto desconfortável, mas crendo no esforço de que no fim valeria à pena, somente por tê-lo sido.
oh, queridos, não se iludam. a verdade não tem nada de atraente, afinal. a verdade tem como única aliada a fé. a fé de que se está fazendo o que é certo e portanto, não provoca danos a ninguém.
engana-se.
essa fé na verdade é tão maior, que faz com que se perca até a fé em si mesmo.
como na religião, muitas vezes. o indivíduo rebaixa-se, em prol de algo incerto, porém, tido como verídico.
sem debates filosóficos, pois estes não me confortam o espírito. ater-se ao maniqueísmo é vão.

no mundo atual, o inevitável é não acreditar.
e confesso que dói sim, muito, não ter razão para estar, para ser, para viver.
a única escapatória é a liberdade. a liberdade como último suspiro disso que se tem mas não se sabe o que é, que vem presa em nós (portanto nos é) e não sabemos como faz para deixar que nos seja.
eu não escolhi ser o que sou. pode parecer uma negativa covarde, uma partida precipitada, mas eu não temo.
a única coisa da qual eu tenho medo, mostra-se encarnada diabolicamente no que considero mais valoroso na minha existência.
há palavras que nunca se esquece.
há sensações que terapia nenhuma consegue amenizar.
há dores que nenhum anestésico pode neutralizar.
há fatos que nunca deixarão de existir.
há pessoas que nunca mudam.

a dor.
a dor é inevitável.
e dizem que o sofrimento é opcional.
bom, nunca foi-me oferecida a opção. vim ao mundo predestinada a isso, parece. uma maldição.

eu preciso acreditar, mais e somente, em mim. sendo sincera ou farsante. não há como enganar a própria natureza.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

saudades de mim

27-08-2008

duas e vinte e sete da madrugada. e nada faz sentido.

a saciedade é um tédio, como diria Álvares de Azevedo, velho amigo que reencontrei há pouco.

hoje (espero eu, otimista) será um dia cheio.
mas se for do jeito que deve ser, o jeito como seu sorriso ilumina o cômodo não deixará com que seja tedioso. e saciará. saciará uma saudade já desproporcional em relação ao desejado. um amor já destilado, que pois então deve ter sua queimação apreciada aos poucos e com cautela, para que não venha a queimar a garganta novamente com seus disparates irremediáveis.
é consolador saber que eu não consegui estragar tanto tudo. ou pelo menos saber que eu acredito nisso. saber que eu acredito n'algo já é um grande avanço. saber que eu acredito em não ter estragado algo é um avanço maior ainda.

atravessar a Lagoa-Barra amarra-me a garganta. desde sempre, não se pergunte porquê.
é o passado perto demais.
um passado remoto, um passado saudosista
(odeio pensar numa palavra e não ter certeza de que seu significado abrange o que eu quero dizer e então, não achar o dicionário. odeio dicionário na internet.) (então.. saudosista, ou saudoso, segundo o site.)
, um passado que nada mais foi do que um presente inocente, o mais inocente de todos desde que entendida por gente e então, pressuposto, entendida por capaz de causar dor e prazer sem medir conseqüências.
do primeiro beijo, velado (velado é trágico e mórbido o suficiente) por uma responsabilidade esquizofrênica
ao primeiro sentimento fraternal de pertencer eternamente a alguém e tê-la pertencida, sem lembrar-se já direito onde e porque a vida te permitiu encontrar alguém que te dá segurança só por pensamento, seja lá onde esteja e como estiver.
me sinto impotente, preguiçosa, acomodada. queria poder te pegar nos braços e girar mais vezes. queria poder ouvir sempre você contar das suas aventuras daquele jeito pausado com voz de mulher jovem que ainda me causa certo estranhamento, visto que te tenho sempre como uma moleca. e saber que essa moleca cresceu e eu vi o quanto julgo insuficiente e agora é um mulherão. e saber que o tempo tá passando, que passaram-se já 3 anos, mas que virão muitos ainda. muitos, muitos. senão todos.
e agora, sendo a amante piegas que eu sou, o ar já me chega com dificuldade aos pulmões, enquanto as lágrimas me chegam com facilidade extrema à face.
e então eu me sinto medíocre, por derramar com muito mais freqüência as mesmas lágrimas por paixões passageiras.
e me sinto então desprezível, ao saber que as de agora, tão infinitamente nobres, se fazem ausentes e talvez desnecessárias.
sem dúvida, só se dá valor quando se sente falta.

perdi o rumo intencional do início do texto, mas me sinto melhor. não que eu me sentisse mal antes.
eu preciso me sentir assim mais vezes, mas a parelha do presente e o sentimento de não ter o que eu preciso impede.

posso não ter o calor falso de um determinado corpo masculino fantasiado a meu gosto junto a mim sempre que julgo preciso (deixando claro que meu julgamento não deve necessariamente ser levado a sério, pois na maioria das vezes eu mostro-me apenas como uma lasciva limítrofe).
posso aceitar que não foi minha respiração que buscaste então aquela noite.
posso aceitar que não é medo e sim piedade que tens por mim.
tudo isso não passa de coisa alguma verdadeiramente importante.

antes a transcendência de um amor, entrelinhas puro, infinito, inescrupuloso, invejável
do que ter a ousadia de deixar-se poluir o coração pela fumaça ainda quente produzida pela combustão como que de material plástico sem valor.

três e vinte e oito da madrugada. e tudo faz sentido.

a saciedade é um tédio, como diria Álvares de Azevedo, velho amigo que reencontrei há pouco.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

Infelizmente há sensações que ao menos eu, não consigo descrever.
E isso é perigoso, levando em consideração que a escrita me é a forma de desabafo mais confortável.
Mal estares físicos. Diagnosticação relativamente simples. Cura-se descrevendo ao médico o que se sente.
Mal estares emocionais/psíquicos/espirituais/dimensionais. Diagnosticação [?] mais complicada. Cura-se [?] descrevendo o que se sente.
E eu sinto que perdi.
Perdi o dom.
Talvez o dom de sentir. Talvez o dom de entender que estou sentindo. [pois o de entender o que estou sentindo seria exigir demais]
Talvez o dom de ser algo que não me é, que, infelizmente, parece se mostrar frequentemente como o que me faz mais falta.
Enfim.
Devaneios.

terça-feira, janeiro 06, 2009

Porque nem sempre há inspiração para manter um blog.