domingo, agosto 30, 2009

A Lagartinha

A vida é tão engraçada. Uma hora você está vivendo tranqüilo e contente e na outra, sem perceber, você está esmagado entre o chão e o sapato de alguém.

E morto, aliás.É hilário.

Queria fazer aqui, um brinde à lagartinha, da qual eu senti encanto, nojo, afeto e um medo irracional e incompreensível de tocá-la.

Quem és tu?- me pergunta a lagartinha.

Sempre hei de me lembrar dela e sua pergunta. Ela pareceu gostar da minha mochila verde BR Mania. Mesmo depois de ter sido arremessada para o alto e ter se fingido de morta em cima do mato por uns dois minutos, ela veio por entre as folhas, graciosamente para subir o degrau de concreto. È uma existência tão perecível e quebrável, que num momento de distração da Morte.. cadê a lagartinha? Ops. Um sapato alheio se levanta de saudade e luto, tirando o pé da fuça da Morte. Deixando ela se levantar do chão e escapar, levando a lagartinha consigo, pois a Morte não tem medo nem nojo de tocar na alma da lagartinha. Não é irracional. Apenas incompreensível, porque eu também o sou e a lagartinha também o é. Alguém que não tem também nojo nem medo de tocar no corpo do delito, tira a esmagadinha do concreto frio e insensível e a joga no matinho, que é a cova apropriada e acolhedora que todos querem. Eu sei que eu gostaria de ser jogado no matinho depois de morto. Claro que eu tomei vinho em memória dela, para brindar a uma nova vida. A beleza da comunhão é também tristeza. No auge do inverno o sol está reinando no manto azul do céu e raiando suas espadas douradas e geladas. Espadas de metal gelado e cor quente
que corta a alma da gente. Uma rima dolorida. Congelada. Como o corpo da lagartinha congelou. E como sua alma precisava ser aquecida pelas mãos do inverno de luvas quentes. O vinho aquece a minha alma, que eu não sei se tenho. Mas acho almas tão bonitas. Até a ausência de alma é bonita. A lagartinha continua sendo bonita. E eu vou sempre me lembrar dela e sua pergunta calada e perturbadora. Me sentiria um terrível esmagador se fosse eu o dono do pé, do sapato, do passo. Não que tenha sido culpa do dito cujo. Não foi culpa de ninguém. Talvez foi a altura dele a culpada. Quanto mais altos, mais bobos somos. Bobos desastrados de passos desastrosos andando pela rua. Quebrando o silêncio, a paz, a lagartinha. Mas desta vez algo foi diferente, porque eu não senti que estava tudo perdido. A lagartinha não foi perdida. Quando uma coisa se quebra, se torna... pedaços. Um pedaço pra cada um. Não devemos tirar mais do que damos...

A beleza é efêmera ou eterna? Não sei dizer. A lagartinha gosta de folha. Ambas duram mais do que a borboleta e a flor. As pessoas tendem a gostar mais de flores e borboletas que são as mais efêmeras. Eu gosto de comer folhas. Comer flores é bom também.
Um passo tem uma distância sutil, entre a distração e a destruição. Um passo te pisa o coração. O peso do passo é o mesmo peso que o concreto tem sobre a terra fofa. A culpa fica entre a lagartinha e a borboleta.
O cuidado dos meus passos é de derramar tinta e sujar o chão incolor e concreto. O cuidado dos meus passos é de desbotar os corações coloridos e abstratos. O som dos meus passos vem do passo pulsante ou do chão pisado? O som é o passo que pisa no meu coração pisado e pulsante. Os meus passos são o cheiro da minha vida. É o compasso involuntário e controlado.

A lagartinha não tem passos. A lagartinha tem coração.
A lagartinha se move graciosa como uma cor dançante.
O passo da lagartinha é diferente. È um passo escorregado. Uma cor escorregando no compasso.

"O essencial é invisível para os olhos..."
Antoine de Saint-Exupéry

Um brinde à lagartinha!
Tim Tim

8 comentários:

Clara disse...

Fran Cisco Quase Nada.

Igor Dorneles disse...

Cara o Saulo foi Genial, ele esse foi o conto mais bem escrito de todos os blogs que já li, me apaixonei pela alma desdentada do saulo.

Bianca Burnier disse...

igor é um hipócrita já matou várias lagartinhas

Igor Dorneles disse...

matei mesmo.

Clara disse...

): eu sempre digo pra não matar. Até hoje me dói aquela lesma que queimamos sem querer.


PÁ, PÁ.

Frenata disse...

Lagartinha, uma viagem pela mente do Saulo pela primavera.
Timtim

Bruno Monteiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
B. disse...

genial isso...