sexta-feira, dezembro 12, 2008

um texto não-autobiográfico:

Toda forma de arte é, inevitavelmente, biografia (bios + graphia). Não é possível a nenhum ser vivente experimentar mais do que a própria vida. Não estou a dizer que só se expresse artisticamente aquilo que se experimenta pelos sentidos, isso seria rebaixar a arte à uma fotografia do mundo, pura representação. Acredito, sim, que arte seja essencialmente criação, mas novamente caimos naquela situação: se é realmente possível criar algo, só se pode criar vida, visto que nada se pode criar que já não seja no ato de vir a ser. A não ser que essa coisa seja a própria morte. Mas deixemos essa ideia de lado por ora, admitindo precariamente que a morte, em si, é ainda vida.
Seguindo esta linha de raciocínio então, ao admitir que toda grafia é biografia e que tudo que se diz (seja qual for o modo desse dizer) é o que se tem acesso - e sabendo que só temos acesso às nossas próprias experiências (sensações, sentimentos, pensamentos), ainda que passadas ou inconscientes; isto logica, filosofica e cientificamente -, tudo o que se pinta, esculpe, escreve, compõe, executa, capta em filme ou, para agrupar, toda e qualquer criação de sensações, ou seja, artística, é nada mais que uma exposição de nossa própria vida.

Toda arte é autobiográfica.

.

16 comentários:

chayenne f. disse...

Toda arte sendo autobiográfica, ao termos contato com a arte produzida por outra pessoa, tornamo-as a partir de então, parte nossa.
E então, nossa arte passa a ser a autobiografia de outrém.
E vice-versa.

;)

chayenne f. disse...

P.S.: A-DO-RO entrar no blog e ver que tem algo que não é meu, mas que passa a ser; que mesmo que seja entitulado como não-autobiográfico, passa a ser parte de minha autobiografia.

Daniel Gaivota disse...

Fez muito sentido isso que você disse, sabia, Chay?

Mas não sei se autobiografia seria o melhor termo ai. "Autobiografia" parece significar algo próximo de "biografia de si mesmo".

Textos de outrem estariam mais pra fazerem parte da "minha biografia".

Sei lá.
Sei que é bom saber que tudo o que li e tenho lido (inclusive nessa troca nos blogs) faz parte da minha vida grafada.


: )

Ferreira, Lai disse...

Olhem, concordo, discordo, acordo.

Acho que a arte, num primeiro momento, só é arte mesmo, de verdade, pra quem a faz. Só o autor sente aquilo, o motivo, as mensagens subliminares.
Mas aí vem o observador(na falta de uma palavra melhor) e interage. Então a arte passa a ser dele também, mas então já é outra arte.
Acho que nada é a mesma coisa.

(Não falei nada que alguém já não tenha falado, mas gosto de dizer que concordo com isso)

chayenne f. disse...

Não sei se foi ou é o melhor termo, mas eu quis brincar com ele, junto com seu significado. :P

E concordo com o senhor.
E concordo com a senhorita sim.

Igor Dorneles disse...

Eu discordo, acredito que quando construímos um personagem nos criamos alguém diferente, mesmo que ele seja totalmente similar, ainda é diferente. Como termos tendências a escrever sobre coisas do cotidiano, acabamos caindo na armadilha de escrever da realidade mais próxima, que é nossa própria realidade. Olhando pelo fato que a arte produzida pelo autor é parte dele, eu concordo completamente, pela arte do artista podemos perceber quem ele é, gostos, assuntos, sensibilidade, etc. pelo dele escrever sobre uma arvore demonstra que ela é importante para sua vida e ele gosta de árvores, mas não que ele seja árvore.
beijo

Igor Dorneles disse...

acho que fiquei um pouco confuso, mas a mensagem que podemos escreve sobre nós mesmos ou sobre outras coisas, e tudo desmonstrará quem nós somos, mas as duas maneiras de escrever são distintas.

Ferreira, Lai disse...

Acho que se ele escreve sobre a árvore, ele é a árvore.
A árvore é ele.
Os dois se confundem.

(Isso me lembrou Clarice, "A paixão segundo G.H." .
Ela come a barata para fazer parte da barata. E termina com um "A vida se me é".)

chayenne f. disse...

Não sei se é o que acontece com G.H., mas talvez seja.


Igor, faltou coerência eu acho. Você começou dizendo que discorda sei lá do que e enfim concordou com o que tava sendo abordado.
o_o

Daniel Gaivota disse...

Sendo menos artista e mais cientista, só uma vez, pra pensar objetivamente também:

O que é a arvore (pra você) senão umas reações no seu cérebro?

O que você conhece ao observar o mundo não é o mundo (ou melho, não está no mundo), é (está em) você mesmo.

Daniel Gaivota disse...

Mas ok, escrever sobre uma árvore é, sim, me importar com a árvore. Não necessariamente que eu goste de árvores, entretanto. Seja como for, a árvore é importante pra minha vida porque ela é parte dela: é, também, minha vida.

Não posso escrever sobre outras coisas senão sobre mim mesmo, pois as "outras coisas" com as quais tenho contato "se me são".

Não há escapatória, tudo é a sua vida.

chayenne f. disse...

Me sinto contemplada com o comentário do senhor Contage.

Ferreira, Lai disse...

=]

Só falta ele comer a barata, agora.


Parei, parei.

chayenne f. disse...

¬¬

Daniel Gaivota disse...

Bem, já que pra escrever eu tenho que olhar pra mim, como contemplar é observar e como você faz parte de mim.... É!! Te contemplei mesmo, Chay! : D


E bem, só falta isso mesmo agora: me xingar ela já xingou.
>: )

chayenne f. disse...

Tem aparecido muitas baratas no meu quarto. Será um convite para que eu as coma? Juro que pensei noite passada.